A intermediação na transferência de conhecimento e tecnologia

A transmissão do conhecimento desenvolvido habitualmente no seio das organizações e a sua transformação em produtos ou processos que venham resolver reais necessidades do mercado é um processo complexo.

Torna-se crucial, por isso, a criação de mecanismos, englobados numa estratégia tecnológica que deverá ser transversal a todos stakeholders do “processo criativo”. Estes mecanismos são os elementos-chave na competitividade das organizações pois permitem a criação de sinergias capazes de gerar inovação.

A crescente concorrência no mercado global, promovida pela procura de produtos e serviços inovadores e de elevada qualidade é um desafio enorme. O foco no produto não é suficiente pois não é apenas o produto que é transferido para o mercado, mas também o conhecimento face ao seu uso ou aplicação. Logo, a base de conhecimento que lhe é inerente, não é secundária. Além disso é fundamental que no processo de transferência de conhecimento, este seja devidamente absorvido pelo seu recetor, de modo a adaptá-lo às suas necessidades e assim fazer dele um veículo de inovação.

As inúmeras políticas e incentivos públicos, assim como o crescente investimento que as organizações fazem nas etapas do ciclo de inovação devem ser consideradas sob a premissa de uma estratégia conjunta. Contudo, possivelmente devido à diferença dos propósitos entre produtores de conhecimento e detentores dos meios, a transferência de conhecimento e de tecnologia são ainda processos complexos.

Os governos procuram desenvolvimento económico, as universidades produzem conhecimento, que muitas vezes permanece na própria academia e as empresas, pela necessidade de sobreviver num mercado competitivo, lutam para maximizar os seus lucros. Manter um propósito comum a cada um dos participantes do processo de inovação é, talvez, o maior dos desafios.

Numa perspetiva mais prática do problema - e ainda que todos os mecanismos de ligação entre os intervenientes no processo de inovação estejam a funcionar - integrado naquilo a que habitualmente se designa por Sistema Nacional de Inovação - os principais entraves à eficiente transferência de conhecimento e de tecnologia surgem da incapacidade em encontrar quem se interesse pela aquisição do conhecimento ou tecnologia produzidos.

Genericamente, alguns produtores de conhecimento, como Universidades e Centros de Investigação, deparam-se frequentemente com o desafio de encontrar os parceiros certos para levar o seu conhecimento ao mercado, ainda que, internamente, possuam algum know-how por via dos seus gabinetes de transferência de conhecimento. De forma semelhante, assistimos à dificuldade que alguns detentores de conhecimento, como os inventores independentes, têm em encontrar quem lhes possibilite rentabilizar o fruto das suas soluções técnicas.

Por outro lado, os detentores dos meios produtivos, habitualmente as empresas, mesmo quando definem estratégias de inovação, deparam-se com problemas técnicos que não conseguem resolver internamente e com a dificuldade em encontrar quem tenha o conhecimento que procuram.

Como exemplo, em Portugal, os pedidos levados a cabo por inventores independentes em 2021 representaram cerca de 28% do total dos pedidos, um número expressivo quando comparado com os 16.5% das instituições de investigação e de ensino superior. Ora, se os primeiros, ainda que com financiamento ou mecanismos de ligação que lhes permitem chegar mais próximo do mercado, se deparam com dificuldades, multipliquemos estas para o caso dos inventores independentes.

 

Fonte: INPI, Estatísticas 2021

 

É sabido que a proteção da propriedade intelectual é condição essencial para que ocorra a transferência de tecnologia e conhecimento, pois é essa proteção que garante maior segurança a quem vende ou a quem compra. O grau de proteção da propriedade intelectual num país está ligado, em grande medida, à sua capacidade tecnológica, mas não necessariamente à sua capacidade para transacionar essa tecnologia ou conhecimento.

Surge por isso a necessidade de colmatar as dificuldades acima descritas criando serviços que possibilitem colocar em contacto os “vendedores” e os “compradores” de conhecimento ou tecnologia, tais como a intervenção de um consultor de intermediação de tecnologia e conhecimento que, de acordo com as necessidades do seu cliente, tem a função de encontrar no mercado global potenciais interessados.

Habitualmente, após esta fase, o consultor coloca em contacto direto as partes interessadas, e ajuda a delinear uma estratégia conjunta que possa defender os seus interesses. Cabe ao consultor intermediário também a preparação de acordos de confidencialidade ou outra documentação que regulamente a relação ou até um estudo mais aprofundado que permita encontrar um valor que sirva de base à negociação - seja ela uma licença ou uma venda – e mais tarde documentação que descreva e regulamente a relação futura entre as partes.

Face à oferta e procura global e sobretudo à exiguidade de alguns mercados, é importante que os envolvidos tenham a capacidade de se interrelacionar com entidades fora do meio no qual estão habituados a interagir pois a intermediação de tecnologia envolve, na maioria das vezes, a aproximação a novos mercados.

A intermediação de tecnologia e de conhecimento poderá ser um veículo relevante para as empresas e centros de produção de conhecimento, ajudando a redefinir estratégias mais eficazes.

É expectável que o consultor intermediário esteja em todas as fases iniciais do processo, pesquisando e avaliando os melhores parceiros para o seu cliente e encaminhar o negócio em benefício de quem representa, com o objetivo fundamental de construir parcerias estratégicas entre as partes e integrar as mais valias de cada uma em prol de um negócio comum.

 


Anterior Próxima